O universo das touradas à corda é repleto de tradições, paixões e emoções fortes. Neste artigo, levamos você em uma viagem pelos anais desse popular evento, desde suas origens até o contexto atual na ilha Terceira, no arquipélago dos Açores.

Origens históricas da tourada à corda

A tourada à corda tem raízes seculares que remontam ao século XVI na ilha Terceira, onde a prática teria surgido como parte das festividades religiosas realizadas nas principais freguesias em honra aos santos padroeiros. O principal objetivo era animar as festas e proporcionar momentos de diversão e convívio entre os habitantes locais.

No entanto, outras fontes sugerem que esta atividade pode ter sido originária do tempo das descobertas portuguesas, quando o contato com outras culturas levou à importação de várias tradições exóticas, incluindo-se a tourada, muito apreciada em países como Espanha e América Latina.

tourada à corda

A consolidação da tradição

Independentemente da sua origem exata, a verdade é que a tourada à corda rapidamente conquistou seu lugar na cultura terceirense e açoriana, tornando-se um elemento-chave das festas populares e religiosas realizadas ao longo do ano. Ao contrário das corridas de touros tradicionais, nas touradas à corda os animais não são mortos e nem feridos com lanças ou espadas.

Uma característica peculiar deste tipo de tourada é o facto de os touros serem conduzidos por uma corda presa ao seu pescoço e segura por pastores, que se esforçam para garantir a preservação da integridade física dos espectadores, enquanto conduzem o animal pelas ruas estreitas e sinuosas das típicas vilas açorianas.

O desenvolvimento das ganadarias açorianas

A prática generalizada das touradas à corda contribuiu decisivamente para o surgimento e consolidação das ganadarias açorianas, dedicadas à criação e cuidados com os touros que protagonizam esta atividade cultural. A ilha Terceira possui várias destas ganadarias, destacando-se a ganadaria "Regôlo" devido a seus touros especialmente selecionados e cuidadosamente treinados para participarem das touradas.

O papel dos curros no maneio dos touros

Em cada freguesia, justamente antes das touradas às cordas, um grupo de 12 homens denominados "curros" também ajudavam no processo de controle dos animais, assegurando que os touros não escapassem durante a sua deslocação até o local onde seria realizada a tourada.

As consequências sociais e económicas da tourada

A realização das touradas à corda trouxe consigo uma série de consequências sociais e económicas para as comunidades envolvidas. Por um lado, fortaleceu a coesão social e os laços de solidariedade entre os habitantes, através dos momentos descontraídos de convívio e partilha vividos durante as festividades. A tourada à corda é, sem dúvida, uma das tradições mais populares do povo açoriano.

Por outro lado, esta atividade tem desempenhado também um importante papel económico, uma vez que tem impulsionado o desenvolvimento da indústria local do turismo. Inúmeros visitantes de outras ilhas e até do mundo inteiro viajam especialmente para Terceira a fim de presenciar e participar das touradas à corda e experimentar acção emocionante em "primeira mão".

A tourada à corda no presente

Atualmente, as touradas à corda continuam sendo praticadas tanto na Terceira como nas restantes ilhas dos Açores, onde se estima serem realizadas cerca de 300 touradas por ano. Apesar disso, nem sempre é possível encontrar unanimidade acerca desta prática ancestral, sobretudo quando são levantadas questões relacionadas aos direitos dos animais e sua integridade física. Existem várias organizações defensoras dos direitos dos animais que têm vindo a promover medidas legislativas no sentido de extinguir ou regularizar a pratica das touradas à corda.

As touradas à corda e a pandemia

O contexto da pandemia de Covid-19 impôs novos desafios para as comunidades açorianas e para as tradições locais, incluindo a tourada à corda. O distanciamento social e as medidas de segurança impostas pelas autoridades sanitárias levaram ao cancelamento de todos os eventos públicos realizados em 2020 na ilha Terceira. No entanto, já em 2021, com o avanço das campanhas de vacinação e das melhorias na capacidade do sistema de saúde, algumas touradas começaram a ser retomadas, ainda que numa escala bastante reduzida e seguindo rigorosos protocolos de segurança.

Conclusão

Aprendemos através desta viagem pelos anais da tourada à corda que, apesar de uma história rica e complexa, esta atividade continua viva e presente na cultura açoriana. Ainda que enfrentando novos desafios e questões relativas aos direitos dos animais, é inegável sua relevância histórica, social e económica e seu enraizamento junto às comunidades praticantes. Reconhecer suas origens e atravessar o tempo nesta rota nos permite entender não só sua importância no passado mas também compreender seu papel no âmbito contemporâneo.